O futuro incerto da Jaguar: do ícone à reinvenção do veículo elétrico

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A Jaguar, outrora sinónimo de desempenho elegante e design intemporal, encontra-se agora numa encruzilhada crítica. A marca – famosa por clássicos como o E-Type e o ousado F-Type – foi reduzida a vender um único modelo, o envelhecido F-Pace, enquanto passava por uma transformação dramática e caótica em uma montadora totalmente elétrica. Esta mudança deixou os concessionários vazios e os consumidores questionam o futuro de uma marca outrora lendária.

Um legado desfeito

As origens da Jaguar remontam a 1922, começando como Swallow Sidecar Company antes de evoluir para SS Cars e, finalmente, Jaguar em 1945. A marca construiu a sua reputação em veículos que equilibravam luxo, desempenho e estilo – sintetizados pelo slogan “Grace, Space, and Pace”. Modelos como o C-Type, D-Type e sedãs posteriores consolidaram o lugar da Jaguar na história automotiva.

No entanto, a história mudou sob a propriedade da Ford. Gerry McGovern, uma figura chave no sucesso do design da Land Rover (incluindo o aclamado atual Defender), subiu na hierarquia, moldando a direção estética da Jaguar a partir de 2011. Apesar das reações mistas a alguns designs, como o Discovery 5, a influência de McGovern era inegável.

O pivô EV e a crise do produto

Hoje, a linha de produtos da Jaguar está desorganizada. O F-Type e o XF foram descontinuados, enquanto o E-Pace e o XE tiveram desempenho medíocre. A marca anunciou uma transição completa para veículos elétricos, uma medida que efetivamente interrompeu as vendas em 2025, enquanto os concessionários lutavam com showrooms vazios.

O Type 00 Concept, apresentado como um vislumbre do futuro elétrico da Jaguar, não conseguiu ressoar. Concorrentes como Mercedes-Benz e Audi lançaram conceitos semelhantes com críticas positivas, mas a campanha de marketing da Jaguar decepcionou. Este passo em falso foi agravado por relatos de brigas internas e decisões de liderança questionáveis, incluindo alegações não confirmadas de demissão do chefe de design Gerry McGovern.

Além da liderança: questões sistêmicas

Os problemas na Jaguar vão além de um único indivíduo. A dependência da empresa de uma agência externa para a sua reformulação da marca alienou muitos fãs, que sentiram que a nova direção se afastava demasiado da identidade central da marca. Este erro de cálculo, combinado com um ataque cibernético devastador no início do ano (que custou à empresa quase 250 milhões de dólares), desestabilizou ainda mais as operações.

O caminho a seguir

A Jaguar deve agir de forma decisiva para evitar tornar-se uma nota de rodapé na história automóvel. Um F-Pace renovado é um começo, mas a marca precisa de uma estratégia de produto abrangente: um carro desportivo adequado, um sedan atraente e uma visão clara para o seu futuro elétrico. Reviver elementos icônicos, como o ornamento do capô do Leaper, também poderia reacender a fidelidade à marca.

Em suma, a Jaguar precisa de redescobrir o que a tornou especial e ao mesmo tempo abraçar o futuro. A sobrevivência da marca depende da restauração dos seus valores fundamentais, da entrega de produtos tangíveis e da recuperação da confiança dos entusiastas e dos consumidores.